"Cabra Cega", romance da autora Sheila Ribeiro Mendonça, é o livro que você vai conhecer neste dia.
Não perca hoje à noite, 20h, o bate papo especial com a Sheila junto com o pessoal da TSA sobre publicação independente.
Capítulo 1
O casal estranho
O casal estranho
RIO DE JANEIRO, RJ.
Rio de Janeiro, ano de 1997, em uma vila no bairro de Botafogo onde só moravam famílias de classe média o casal Gustavo e Clara decidiu que seria ali o seu mais novo ninho do amor. Na vila todos eram bem unidos e faziam sempre questão de receber bem os novos vizinhos. Mas com o casal tiveram que fazer diferente, pois se mudaram de madrugada. Logo, ninguém viu.
A curiosidade continuaria por mais tempo se não fosse Fernandinho que, como toda criança, era curiosa. Um dia ele parou em frente à casa do casal, até então supostamente vazia, e observou que nas janelas já estavam cortinas novas. Ao descobrir o que tanto procurava fez o maior estardalhaço provocando assim uma enorme surpresa em todos. Ninguém havia percebido nenhuma movimentação de mudança.
Dentro da casa não havia nada de anormal e aos poucos Clara começou a arrumar do jeito que seu marido pediu. As cortinas foram colocadas na madrugada que se mudaram para que pudessem ter total privacidade. Haviam levado somente as roupas e pertences pessoais, já os móveis Gustavo queria ir comprando. Nos dias que se seguiram Clara supervisionou os pintores à distância sem falar e nem olhar para ninguém. Queria tudo em tons pastéis com detalhes em branco. Na parte de fora da casa o marido havia lhe permitido dar palpites.
Na vila todos comentavam a frieza do casal e estranhavam muito o fato de terem escolhido morar em uma vila, já que faziam questão de não falar com ninguém. Nos dias que se seguiram Clara, sem que o marido percebesse, começou a quebrar o gelo pelo menos com os vizinhos ao lado de sua casa. E sempre que podia cumprimentava a todos, de crianças a idosos. Com isso as pessoas começaram a simpatizar com a jovem, mas continuaram sem entender o porquê de tanta subserviência. Depois de tanto tentar disfarçar teve um dia que Gustavo viu e a proibiu de continuar falando com as pessoas, mas Clara achava um absurdo e não estava disposta a obedecê-lo dessa vez.
Naquela tarde Gustavo resolveu fazer uma surpresa e chegou mais cedo pegando sua mulher no maior flagra conversando com os vizinhos que se aproximavam cada vez mais, Dona Mariana e Seu Edgar. Estes não entenderam nada quando Gustavo chegou nervoso e puxou a mulher pelo braço sem cumprimentá-los. Atônitos, o casal continuou na porta pensando em como aqueles jovens eram estranhos e no quanto não fazia sentido aquela linda menina ser tão submissa. Será que ela não tem família? E se tem o que será que eles acham desse casamento? Será que sabem como a filha é tratada?
Quando Clara foi empurrada pra dentro de casa já foi logo levando uma repreensão e ouvindo a mesma história de sempre. Gustavo aproveitava para lhe jogar na cara que tiveram que sair de Ouro Preto, Minas Gerais, justamente porque ela resolveu dar trabalho. Ele era extremamente ciumento e não suportava vê-la conversando com as pessoas. O ideal de vida a dois para Gustavo era somente um viver para o outro sem terem amigos ou família por perto.
Na medida do possível a vida do casal seguiu adiante, na mesma rotina. Essa só mudava um pouco quando Clara fazia alguma coisa que desagradasse muito o seu marido. Um dia, antes de tomar banho, colocou uma panela no fogo com água para ferver, mas se distraiu e a água evaporou. A panela queimou fazendo muita fumaça na cozinha. Com a janela aberta acabou chamando a atenção de alguns vizinhos, principalmente de Dona Mariana. Assustada foi verificar o que acontecia. Enquanto isso Clara, que estava no chuveiro, chorava pensando no quanto o seu casamento era muito diferente do que sempre sonhou, viajando em seus devaneios não sentiu o cheiro de queimado e só foi acordar quando ouviu ao longe o som de uma campainha insistente.
Clara rapidamente se enrolou numa toalha e foi verificar o que acontecia. Ao passar pela cozinha sentiu um forte cheiro de queimado e viu a fumaça, entrou e pegou a panela queimada tirando do fogão e colocando dentro da pia com água corrente. Voltou para a porta e olhou pela janela, ao ver que era Dona Mariana ficou nervosa e tratou logo de saber o que a vizinha queria e com educação explicou o que aconteceu rapidamente tratando de despachá-la imediatamente, antes que Gustavo chegasse e presenciasse o ocorrido.
Ao fechar a porta jogou correndo a panela fora para que Gustavo não visse nada e abriu ao máximo a janela da cozinha para o cheiro de queimado sair, ou seja, tentou limpar os vestígios do que acabava de acontecer, pois o seu marido não podia mesmo ficar sabendo.
Dez minutos haviam se passado quando Clara olhou para o relógio, assim que Gustavo colocou a chave na porta e a chamou cheio de carinho. Ela estava em seu quarto arrumando as suas roupas, pois tinha feito compras no dia anterior e ainda não tinha tirado das sacolas, mas resolveu fingir que não ouviu o marido. No mesmo instante que Gustavo chegou cheio de amor se transformou quando sentiu o cheiro de queimado, procurou de onde vinha e foi atrás de Clara já querendo explicações e briga.
Ao ver o marido com aquela cara demoníaca, que já conhecia, estremeceu e fingiu não entender, assim o recebendo com carinho. Mas ele não queria conversa e nem beijos, deu um tapa no rosto de Clara perguntando que cheiro era aquele. Clara chorando muito dizia não sentir nada e tentava convencê-lo de que não era em casa e que nada tinha acontecido. A sorte de Clara era que, a poucos segundos de Gustavo chegar, havia jogado fora a panela e assim não teria como ele descobrir, pois nunca verificava o lixo do lado de fora da casa.
Já à noite Gustavo foi até o shopping, ali perto, e rapidamente comprou um lindo vestido para a esposa. Era sempre assim. Não havia sido a primeira vez que Clara tinha apanhado do marido e quando acontecia Gustavo chegava com presentes querendo fazer as pazes. E ela tinha que estar sempre disposta aos caprichos dele. Para Gustavo sua esposa sempre tinha que cumprir com os seus deveres conjugais.
Chegando em casa encontrou Clara trancada no quarto deles chorando. Sem dar a mínima para os sentimentos da esposa bateu na porta exigindo que ela lavasse o rosto e colocasse a roupa nova que ele estava deixando encostada na porta, pelo lado de fora. E pelo resto da noite teve que fingir ser a mulher mais fogosa e apaixonada do mundo. Gustavo estava tão obcecado que nem percebeu a expressão de horror e nojo de Clara enquanto a amava.
No dia seguinte, ao ir à rua fazer suas coisas, foi de óculos escuros na tentativa de esconder os olhos inchados de tanto chorar por não ter conseguido dormir a noite inteira. Clara, naquele dia, estava extremamente angustiada e sem saber como resolver a sua vida, mas no fundo, apesar de ter medo, tinha consciência que daquele jeito não suportaria mais.
Oi,ando escrevendo algumas coisas,pode dar uma olhada?
ResponderExcluirhttp://desenhode.blogspot.com.br/2013/09/a-maldicao.html#more
Oba! Beijo, beijo, minha linda!
ResponderExcluirShe