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Confira a sinopse e o primeiro capítulo do livro:
Sinopse
Quero
te convidar a conhecer as memórias do Imperador Shi, mas pra aceitar o convite
você tem que ir comigo até a última página. Não vale desistir no caminho, tem
que ter coragem e chegar até o final, topa? Você não vai se arrepender!
Existe
um Provérbio Chinês que diz: “Lembre-se
que grandes realizações e grandes amores envolvem grandes riscos.” Nada
melhor do que esse provérbio para começar a ler as memórias de Shi, o jovem
Imperador Chinês que envolvido em um grande segredo vê sua vida mudar completamente ao conhecer Zheng.
Toda
essa história começou em meados do século XV na China Antiga, precisamente na
Cidade Proibida, em plena Dinastia Ming, entre as
misteriosas paredes do palácio imperial onde vive o Imperador. Zheng é um rapaz simples, filho de um militar que tinha um
sonho de infância: se tornar um Guerreiro
do Exército Chinê. Shi o
Imperador da China, também tinha um sonho: ser
livre. Com a ajuda de Zheng o imperador vai descobrir outros motivos para
viver, para ser feliz. Ele vai descobrir a possibilidade de amar, como nunca
imaginou antes.
As
memórias de Shi guardam um segredo que se descoberto pode mudar toda a história
da sua dinastia. Nessa história existe uma grande amizade, uma paixão não
correspondida, um amor verdadeiro, uma traição, uma ambição, uma vingança e, por
fim, uma descoberta capaz de mudar até mesmo o que você, leitor, imaginará
desde a primeira página do livro.
Você
vai se surpreender do início ao fim dessa história.
CAPÍTULO I
分娩
Nascimento
Toda
minha história começou em meados do século XV na China Antiga, precisamente na
Cidade Proibida, em plena dinastia Ming sob o meu Império. Hoje parecia ser um
dia comum, sol brilhando forte sobre as terras da China, canto dos pássaros como
uma oração sagrada, natureza reluzente que invadia o vazio que meu olhar
procurava preencher através da visão da janela, no templo de reuniões em que eu
me encontrava. Costumo passar horas, sozinho, de frente a esta imagem e muitas
vezes, pensativo, procurando respostas, alimentando a saudade com as lembranças
dos momentos que conversei com meu pai neste mesmo lugar.
Ainda
me recordo, ele ficava exatamente onde fico agora, olhando pela janela,
apreciando o jardim e me instruindo, me orientando, me dizendo palavras sábias
e me fazendo acreditar que existia em algum lugar a felicidade guardada para
mim. Chamam-me de filho do céu e eu
me vejo um filho sozinho, muito distante deste Ser Sagrado e Supremo que em mim idolatram. Meu pai sim, em meu
adorado pai, eu encontrava um Deus sábio
portador de um amor incondicional e de uma honra admirável, um Deus que eu procuro todas as vezes que
meu coração aperta, angustia, que está cheio de dúvidas e de silêncios.
A
saudade é a amizade que me convida à tristeza e, por vezes, me possui, como
agora, como essa manhã. Envolvido nestas recordações e no vazio que buscava de
todas as maneiras preencher sou convidado a voltar para o meu corpo ao ouvir a
voz sonora do Comandante Deshi que ecoava fortemente pela sala, embora eu
soubesse que ele tentava ao máximo abafar o tom da sua voz grave almejando um
dia conseguir a suavidade.
–
Majestade?! – pronuncia Deshi ao adentrar na sala de reuniões. Estava como sempre
bem-vestido e com uma postura impecável. Segurava fortemente sua espada com toda
honra que lhe é concedida se posicionando alguns metros de distância sem me
encarar, apenas aguardando minha resposta.
–
Sim, Deshi – respondi, sem virar-me completamente, observando sutilmente para a
lateral onde ele estava a postos.
–
O exército está pronto! Todos os homens estão esperando a Vossa Majestade,
ansiosos para o início da demonstração de bravura – respondeu Deshi que sem
dúvida amava servir ao imperador.
Foi
o comandante de segurança do meu pai e agora é o meu. Sempre orgulhoso de
treinar e preparar o nosso exército, esse dia para ele é de festa e muita glória.
É o dia anual de recepção dos novos militares, o grupo de homens que vai fazer
parte da Classe Militar do Império Chinês e que guarda os muros da Cidade
Proibida.
–
Obrigado Deshi, irei logo em seguida. – Eu não era encarado, ninguém tinha o
privilégio de me olhar e nem de conversar comigo com frequência.
Poucos,
como Deshi, conviveram tão de perto durante anos com imperadores de uma mesma
dinastia. Nem mesmo ele tinha me visto de verdade. O meu olhar tem o dom de afastar
o olhar de qualquer pessoa comum na China. Ninguém ousava conhecer meus olhos,
nem mesmo Deshi que me viu crescer. Essa distância é fundamental para mim, para
minha segurança. É essencial para a China que meus portais da alma permaneçam
na obscuridade, na escuridão, é importante que eu me mantenha nas sombras. Deshi
me cumprimentou e saiu ficando a postos na porta esperando minha passagem.
Dirigi-me ao meu
quarto, escoltado por Deshi. Como a ocasião pedia vesti uma das minhas melhores
roupas, afinal era a única coisa que os demais olhariam, para as vestimentas do
imperador. Ao sair do meu espaço mais íntimo Deshi estava esperando na frente,
fazendo a guarda. Esperou que eu passasse e veio logo atrás seguindo meus
passos. Pelo corredor principal do palácio que abria caminho para outros
inúmeros corredores, formando um labirinto, ecoavam os passos fortes e barulhentos
daquele homem alto e másculo que por mais que se esforçasse não conseguia ser
leve ou mesmo sutil contrastando com o silenciar das minhas pisadas que mal
davam para serem ouvidas.
Vesti-me de cores escuras
na intenção de demonstrar minha seriedade e meu luto eterno pelo meu pai. Desde
sua morte a tristeza me parece ser uma companheira inseparável que vem
desfrutando todos os meus dias e as primaveras que me alegram com flores. Nesse
passo, silenciados, eu e ele chegamos ao portão meridiano ao sul, o portão
principal de frente à praça central do palácio.
Há alguns passos da
sacada pude apreciar um dos mais belos espetáculos, o sol iluminando as telhas
amarelas que distribuíam raios de beleza incomparável a qual me impossibilitava
descrição de tão simples que são minhas palavras diante do deslumbre da China. Meus
olhos não se cansam de apreciar a natureza enquanto os oficiais de segurança
aguardavam minha chegada, organizados harmoniosamente em fileiras.
Obedecendo ao ritual deixo
que o Comandante Deshi ultrapasse minha entrada e chegue à frente da escadaria
da praça anunciando a todos a minha presença. Os oficiais preparam-se e ficam a
postos para que eu percorra o caminho no qual estão enfileirados, na minha
lateral, formando um corredor negro em que nada parecia estar fora do lugar, direcionado
da sacada ao trono imperial dourado com almofadas vermelhas e fofas. Ando
alguns passos e percebo a movimentação do grupo de homens recém-chegados
tentando enxergar ousadamente a imagem do imperador, tão pouco vista pelo povo
chinês.
No entanto, era uma
tentativa frustrada uma vez que minha estatura baixa e franzina era encoberta
por aquele corredor da guarda de segurança despertando apenas a curiosidade da
população que ao tentar me ver fazia renascer um fio de esperança, uma vez que
todos temiam quanto a minha saúde frágil e minha vida solitária. Até então sem
herdeiro para o trono da China que não poderia ficar sem o filho do céu, na terra.
De frente à escadaria
do palácio imperial, protegido pelos inúmeros oficiais, estava o trono que me
aguardava. Posiciono-me naquele espaço tão grande que não parecia uma cadeira,
mas um dragão a me engolir onde sobrava espaço para mais uma pessoa. A alguns
metros de distância e abaixo da longa escadaria estava o tapete humano do exército
recém-chegado para compor a Classe Militar da China. Estávamos em um momento muito
delicado de crise, inúmeros povos tentavam invadir o Império e subjugar meu
povo.
Apesar da minha saúde debilitada
eu buscava ter pulso forte nas decisões, governar através dos ensinamentos
sábios deixados pelo meu pai tentando fazer escolhas com discernimento para
promover a paz e prosperidade para o povo chinês. No entanto, aqui dentro de
mim eu temia envolvido no silêncio que me sufocava não podendo deixar
transparecer para o meu povo as angústias que me atormentavam.
Eu jamais poderia
permitir que a minha dinastia trouxesse vergonha para a China. Meu pai partiu
quando eu ainda tinha quinze anos, após oito anos ainda sinto saudades do seu
colo, do seu abraço e das nossas conversas que me diziam o que fazer na hora
exata. Ele era meu único amigo e confidente. Hoje eu vivo constantemente
enclausurado, sem pessoas que possa confiar, sem amigos, sozinho. Todas as
minhas falas são de ordem, de consentimento, de pedidos e de versos que escrevo
escondido para diminuir esta solidão que me angustia tanto.
Deshi é a pessoa com
quem mais convivo diariamente, me escolta sempre. É sério, robusto e fiel, serviu
com fidelidade ao meu pai até seu último suspiro, como serve a mim. Não conversamos
muito, apenas nos falamos, mas ele me parece um amigo por tão poucos que possuo
ao meu lado. Ele faz a minha segurança pessoal e com isso é a pessoa com quem mais
compartilho o meu tempo.
A minha aparição para
recepcionar o exército é motivo de festa em toda cidade, uma vez que o imperador
frequentemente não é visto. Essa é a chance de poucos poderem ver o soberano de
uma dinastia. Enquanto as pessoas trabalham na agricultura, comércio,
artesanato e nos cuidados da casa, eu trabalho governando através de uma vida restrita,
caminhando e comendo pouco, observando, meditando e contemplando muito, entre os
nove mil cômodos da Cidade Proibida, cheia de silêncios e de mistério, repleta
de histórias silenciadas.
Bem, esse sou eu, o
Imperador Shi, jovem, frágil e solitário como sei que todos me imaginam. Essas
são minhas memórias diante do olhar curioso e temeroso do tapete humano dos
militares em forma que olham na minha direção sem ousar mirar meu rosto, uma
forma extremamente estranha de perceber o outro, que sempre me provocava
vontade de sorrir.
O Comandante Deshi a
postos na minha lateral faz um sinal para que comece a apresentação ao imperador
e uma série de demonstrações tem início. Apesar deles não me olharem no rosto,
muito menos nos olhos, o meu olhar passeia entre eles observando e buscando
compreender o nível de concentração, determinação e força que existe em cada guerreiro
presente.
Tudo parecia extremamente igual a todas as
vezes que um novo corpo de militares se apresentava para entrar na classe de
oficiais da realeza, se não fosse um detalhe, um doce detalhe, um soldado ágil
entre os guerreiros que roubou todos os segundos da minha atenção. Durante os
momentos da sua apresentação meu olhar não conseguia se desviar dos movimentos
tão precisos que aquele corpo perfeito fazia.
–
Quem é este Deshi? – perguntei apontando para o rapaz que aos meus olhos se
destacava dos demais.
–
Esse é Zheng, a mais nova promessa para o exército. Eu o escolhi entre os
outros para confiar a chefia da Guarda de Oficiais enquanto me dedico
exclusivamente a sua segurança, Majestade – disse Deshi num tom de orgulho
curvando-se um pouco para responder próximo ao meu ouvido, mas olhando e
gesticulando para os movimentos do rapaz.
Durante alguns minutos me
esvaziei de todos os sentidos e de todas as responsabilidades dos poucos anos que
a minha existência acumulou. Parei e apenas deixei meus pensamentos fluírem. A
mim é permitido apreciar de tal forma? Não sei apenas me deixei. Esqueci meu
lugar, minha posição e apenas me permiti uns segundos para perceber que corre
sangue em minhas veias, que meu coração era capaz de bater numa velocidade mais
rápida do que o normal.
Ele era completamente
diferente de todos os outros, ele era uma exceção entre os milhares de
guerreiros que ali demonstravam sua força e coragem ao seu imperador. Ele tem uma
expressão forte e suave ao mesmo tempo, um ponto de mistério, eu diria.
Uma neblina que toca
suavemente a pele sem ser vista. Um perfume que nos transporta sem esforço.
Existe nele uma honra em estar ali tão reluzente que se fazia notar em cada
movimento audaz que ele traçava num misto de rapidez e perfeição. Enquanto meu
olhar perseguia seus detalhes às escondidas, a fala do comandante sobre os
atributos do rapaz quase não me eram perceptíveis de tão envolvido que meus
pensamentos estavam.
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