22 novembro 2013

Deguste um livro: Amores de Verão

Nesta sexta a coluna aqui no Eclética que participa da Bienal Online, Deguste um livro, traz uma obra idealizada por mim com a participação mais que especial das minhas amigas escritoras Rebeca Andrade (aqui do blog), Renata Martins, Gleize Costa e Joice Lourenço. 

É hoje o lançamento \o/ e você vai ler em primeira mão o comecinho do primeiro conto, escrito por mim. 
Não deixe de acompanhar a Bienal Online no facebook, pois hoje a noite estará promovendo um bate papo com as autoras do livro. 

Curta também Amores de Verão, e você pode ler a sinopse e os comentários no meu novo site \o/ (demorou mais saiu!), que aliás tem tudo - ou quase - sobre minhas obras como book trailers, primeiros capítulos, comentários, curiosidades, personagens, fotos, enfim, dê uma passadinha lá e faça a festa! rsrs

Bom, vamos ao que interessa! Com vocês, abrindo o verão literário, Te amei numa noite de Verão, conto da nossa antologia:


Te amei numa noite de Verão

— Não deixe o samba acabar, não deixe o samba a-ca-bar...
Respirou fundo, impaciente, Antônio não parava de repetir aquela música. Quase bêbado como ele estava, nem mesmo os resmungos do amigo e os tropeções que levava na viela de paralelepípedos acabavam com aquela alegria alcoólica. Diabos, pra quê Miguel foi chamá-lo pra ver o jogo no barzinho?
— Ô abre a roda, meu amor, que eu quero sentir seu calor. Ô ô... — Parou e olhou para o outro, de lado. — Ah, Miguel, qual é a sua? Noite boa pra festejar, o Atlético ganhou, poxa vida!
— Cara, eu sou Cruzeirense — murmurou.
— Ih, dor de cotovelo! — Passou o braço sobre o ombro do colega. — Não fica triste, não fica, tá legal?! O dia tá lindo...
— É meia-noite.
—... dá até praia...
— Nós estamos no Centro.
—... cheia de mulher bonita... — falou lentamente, quase visualizando.
— A essa hora estão todas dormindo. — Inflamou as narinas e apertou os lábios num sorriso caído.
— Ê, mas como você é do contra! — reclamou afastando.
Caminharam quietos, pelo menos Miguel, porque Antônio ainda sussurrava uma música até chegar na pensão em que estava hospedado.
— Até amanhã — Miguel se despediu e já deu as costas pra ir embora. Estava em um apartamento no próximo bairro com mais cinco amigos.
Antônio empurrou o portão verde gradeado. Sem sono, resolveu que queria papear mais um pouco antes de chegar a dor de cabeça, por isso deu meia volta.
— Ô Miguel, ô, vai embora não, pô! Vamos falar do jogo — chamou, mas ele já descia a rua escura. Coçou a cabeça, os cabelos cacheados que brotavam por todo canto. Deu de ombros e caminhou até a saleta de entrada. A porta estava trancada. Lembrou-se da chave e vasculhou os bolsos em busca dela. Na frente, atrás, pensou em procurar até na meia. — Miguel! — gritou. — Ô Miguel, onde você escondeu minha chave, caramba? — pensou em voz alta, olhando em volta. — Maria! Será que deixei no bar? Diacho!
Já cansado e sentindo fisgadas na cabeça, foi fazendo o trajeto de volta pro barzinho, onde tinha assistido ao jogo Atlético Mineiro versus Cruzeiro. Vinha coçando a barba aparada, castanha clara, como os olhos e cabelos, até a chave havia esquecido a essa altura.
— Golaço! — Vibrou, lembrando-se, e subiu os três degraus do bar. Estava cheio de estudantes universitários, tal como ele e Miguel, em sua maioria vindos de Minas para o litoral capixaba, onde passavam as férias de verão. Transitou por entre as mesas, o cheiro dos aperitivos subia até ele como um delicioso aroma, mas já se encontrava de barriga cheia. Chegou até a mesa em que antes estava sentado, procurou em cima, no chão, nas cadeiras, e estava quase convencido de que dormiria na calçada, quando então tocaram seu ombro.
— Boa noite — cumprimentaram. Antônio virou rapidamente e deu de cara com uma garçonete, a quem olhou espantado, não tinha notado que era uma mulher tão bonita. — Você e seu amigo esqueceram uma chave? Se bem me lembro, eram vocês que estavam na mesa 6.
— Aham. A chave é minha. E a sorte também — falou, sentindo-se meio abobalhado.






— Um minuto. — Deu as costas e foi para o balcão.
Antônio deu-se conta de que estava com o queixo caído. Recobrou os sentidos quando ela voltou. Os cabelos eram nos ombros, castanho mel, e bem ondulados, usava um jeans escuro, All star, e uma camiseta básica branca. Tinha o corpo de quem um dia já fora gordinha, e achou-a linda por inteiro.
— Obrigado por ter guardado pra mim — ele disse a ela, quando colocou a chave na palma de sua mão. — Se não fosse por você, acho que dormiria em alguma praça.
— Pensando nela? — Ergueu as sobrancelhas.
— Como?
A garçonete colocou uma mecha atrás da orelha e sorriu.
— Foi uma piada. Não vou ter que explicar, vou? — Pegou o pano preso no passa cinto da calça e limpou a mesa 6.
— Ah, não, eu entendi. Claro que entendi. — Apoiou-se no espaldar de uma cadeira. — Como se chama?
— Janaína.
— Bonito nome. Me chamo Antônio.
Ela ergueu o rosto com um sorriso e voltou a trabalhar. Quando ia sorrir de volta, sentiu dor de cabeça.
— Sabe de algum remédio bom pra ressaca? — perguntou, sentando-se e apoiando a testa na mão.
— Vergonha na cara — Janaína deixou escapulir um sorriso travesso e voltou pro balcão.
Olhava Janaína de longe, terminando de organizar o caixa. Não havia ninguém no bar, exceto ele, ela e outro atendente, gordo, barbudo e careca. Notou como era ágio com os dedos, contava as notas sem muita complicação, depois amarrava com uma borracha de dinheiro e guardava em um cofre. Uma hora ela levantou os olhos e viu que Antônio a observava.
— Perdeu mais alguma coisa além da chave?
— Meu coração quando te vi — ele respondeu o que veio à mente.
Ela deu risada, alta, divertida e profunda, e ele adorou o som. Além do mais, os olhos quase verdes de Janaína o encantaram com seu brilho, e os cílios pareciam asas de borboleta se preparando para um pouso.
— Tem certeza de que não achou nenhum órgão pulsante, ensanguentado, do tamanho da minha mão fechada, largado por aí? — Antônio perguntou, aproximando-se do balcão que ela estava limpando e debruçou-se sobre ele.
— Se tivesse achado, não sei se devolveria — ela respondeu. O outro cara no bar, o grandão careca, fez um “hmm” de provocação, enquanto ajeitava as cadeiras de madeira embaixo das mesas também de madeira.
— Mesmo?
Janaína tirou do balcão dois copos que não foram usados e guardou na prateleira.
— Faço coleção — ela disse, por fim. — Mais alguma coisa antes do bar fechar? — Olhou o relógio no pulso. — Já deu a minha hora.
— Seu telefone.
Janaína olhou pra Marcelo, que piscou para ela achando graça.
— Não passo o meu número pra clientes. — Saiu de trás do balcão, indo para fora do bar, onde a lua cheia iluminava o céu e poucas pessoas transitavam na rua de paralelepípedos e casas antigas.
— Pensei que fôssemos amigos. — Ela ouviu atrás de si.
— Dá o número pro rapaz, ficou aqui meia hora te esperando — Marcelo intercedeu, abaixando a porta de metal.
— Até você, Marcelo? — Olhou por cima do ombro e depois para o lado, onde Antônio a esperava como se fosse levá-la em casa. Onde estava se metendo?
— Até amanhã, então? — Marcelo deu a chave a ela e se despediu.
— Até.
— Tchau, Marcelo — Antônio disse e acenou com a mão.
O rapaz grandão ficou olhando os dois ali parados na calçada.
— Janaína, o cara não vai nem lembrar onde mora depois que sair daqui — falou e ela fez uma careta.
— 9955-4300 — ela disse depressa e saiu em direção a sua moto estacionada na calçada da frente.
— Te ligo amanhã! — Antônio gritou, depois bateu a mão na testa com dor de cabeça.

2


O vento quente de verão entrava pela janela do quarto. Dormia com o travesseiro no rosto, fugindo dos raios solares, o lençol todo desarrumado e embolado no corpo. Vestia a mesma calça de ontem e estava sem camisa.
Havia acordado às 8h para tomar um café forte e comprimidos para dor de cabeça. Voltou para cama para tentar recuperar a noite de sono, já que não tinha conseguido pregar os olhos direito naquela madrugada. Eram 14h e a fome o impelia a levantar.
Depois do almoço, do banho, e da leitura do jornal local, foi à varanda com o celular na mão. Já não fazia ideia do telefone de Janaína, mas forçava a mente para recordar.
— 9... 5?
Pegou um papel e uma caneta e pôs-se a escrever vários números que achava que ela havia dito, juntando todos criou a permutação e lançou-se a telefonar para cada uma das possibilidades.
— Alô?
— Oi.
— Janaína?
— Quem?
— Desculpa. — Desligou. — Alô? Janaína?
Desligaram na cara dele.
— É a Janaína?
— Sou eu.
— Até que enfim! — Jogou-se de costas na cama. Sacudiu com a mão os cabelos cacheados. — É o Antônio.
— Como sabe meu número? Você estava bêbado ontem.
— Não duvide da capacidade de um bêbado — destacou, erguendo um dedo no ar. 
— Tá, o que deseja? Tô no serviço agora — falou, equilibrando o celular no ombro e duas bandejas nas mãos.
— Queria ouvir sua voz. — Sorriu de olhos fechados.
— Bebeu de novo?
Ele sentou na cama.
— Não. — Deu risada. — Um cara pra ser romântico tem de estar alcoolizado?
— Os que eu conheço precisam. — Pegou o celular assim que deixou os petiscos, uma garrafa de cerveja e uma latinha de Coca-Cola na mesa.
— Sou diferente de todos que você já conheceu.
Ela riu.
— E eu sou a Madonna disfarçada de garçonete — ironizou. Marcelo lembrou Janaína que os homens da mesa 9 estavam esperando para serem atendidos. — Ei, eu preciso desligar.
— Posso te ligar quando terminar o expediente? Melhor, te vejo hoje à noite.
E desligou sem que ela pudesse recusar.



Breve à venda pela internet.



Um comentário:

  1. Legal o livro, tenho q ler a sinopse para ter a certeza de q quero comprar.

    Bjs

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