21 fevereiro 2014

Vitória, a jornada

Guarapari fica cerca de 50 minutos de carro, 50 km da capital do Espírito Santo, Vitória, ou 1 hora e meia de ônibus, e possui muitos habitantes que vão-e-voltam todo santo dia (fazem o trajeto casa-topic-faculdade-topic-casa). Eu passo todos os meus finais de semana nesse belo lugar, com praias incríveis, revendo minha família. Sexta à noite, sábado e domingo são maravilhosos. Maaas chega a tal da segunda-feira e a rotina de estudos na capital tem que recomeçar.
Semanas atrás, numa bela madrugada, às 5 e meia da manhã de uma escura segunda-feira, você já está de pé, pronta pra sair de casa. Na noite anterior você não conseguiu carona de carro com seus amigos, nem com o moço da topic que vai direto da sua casa até a UFES – só a van que a sua irmã do meio pega todo dia para ir estudar em Vila Velha. E lá você está: linda, com a cara amarrotada, tentando achar uma posição confortável para tirar o atraso do sono durante o trajeto. Mas aí algumas meninas da van resolvem colocar o assunto do “fds” em dia, o que dificulta em muito a sua soneca.
Em Vila Velha, você desce da van, vai ao terminal para “pegar” um Transcol. Até que o ônibus não demora tanto a chegar – ele só demora a ANDAR, a sair do lugar, o que te toma mais uma hora de vida, porque o trânsito fica parado durante uma eternidade inteira até subir a Terceira Ponte.
Tempos difíceis exigem medidas drásticas: como o sono não passava por nada (e eu percebi que ninguém no coletivo àquela hora de uma segunda-feira preguiçosa – nem mesmo o rapaz bonito da cadeira da frente, que dormia como um anjo até abrir os lábios e começar a babar – se compadeceria da minha situação e cederia o assento para mim), pendurei minhas bolsas no gancho próximo ao teto e tentei dormir pendurada pelo braço.
Agradeci ao universo pelo ônibus não estar tão lotado – ainda -, nem chovendo, porque ninguém merece ser “sardinha” em um bus lotado e com as janelas todas fechadas para os passageiros não ficarem molhados – podendo, porém, morrer por asfixia e derreter na sauna improvisada.
A posição de bicho preguiça não deu muito certo. O chão, então, aparentava ser o lugar mais confortável naquele momento, portanto, reuni todas as minhas tralhas, abaixei, encostei as costas e estiquei as pernas. Sim, no meio do ônibus, daqueles que “dobram”, como se fossem uma sanfona - ninguém gosta muito de ficar por lá, reparei. O vai-e-vem do meio giratório foi bom para me ninar.
(…)
AI MEU DEUS, onde é que estou?
Sabe aquele momento em que você cai em sono profundo durante dois minutos no coletivo e acorda desesperado, porque não faz a mínima ideia de onde esteja no planeta? Pois bem, graças a Deus eu consegui me localizar no mundo e percebi que ainda estava na Reta da Penha. Todavia, esse pequeno susto quase me causou um mico: eu levantei toda destrambelhada, ajoelhei e quase fui de cara ao chão quando o motorista freou.
Nessa hora, várias pessoas desceram e um lugar próximo ficou vago. Sentei ao lado de uma menina que estava chorando sabe-se-lá-por-quê. Forcei-me a não dormir de novo, apesar do conforto tentador do assento, para tentar consolá-la. Menos de cinco minutos depois eu me despedia da menina, juntava minhas trouxas, e descia no primeiro ponto em frente à Universidade. Reuni também toda a minha dignidade e coragem para entrar na aula, que já havia começado há 55 minutos.
Atravessei a Fernando Ferrari, andei até meu prédio, subi as escadas, cheguei à porta, girei a maçaneta… trancada.
 ”Será que mudaram de sala?”, pensei com meus botões.
Descubro que a aula fora cancelada no dia anterior. Oh céus! Todo o esforço em vão. “E agora, José?”, eu me pergunto, “sento e choro?”. A recompensa vem na resposta mental que dei para minha própria reclamação: “vai pra casa, deita e dorme até meio-dia”.
Foto: Luiz C. Cont Murari

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